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fevereiro 25, 2020

O carnaval de Salvador, a capital com maior percentual de pessoas negras do Brasil, ganhou novas atrações em 2020: o Afropunk desfilou com o trio elétrico, conhecido como Navio Pirata. No sábado (22) saiu com a banda Afrocidade, que toca pagodão e pede para as pessoas “meterem dança”. Enquanto no domingo (23) foi a vez de BaianaSystem abrir suas rodas e dar espaço ao “bate cabeça do amor” que provoca milhares de pessoas a pularem e dançarem juntas. São bandas de pessoas negras, que até então não tinham espaço durante os dias de carnaval na cidade.

No sábado, o Afrocidade puxou pela primeira vez um trio elétrico. A banda já havia tocado em palcos fixos durante o carnaval de outros anos, mas ainda não tinha ganhado a projeção que os trios proporcionam e desfilado no circuito principal, pela orla marinha, que liga os bairros da Barra até Ondina. “Poder fazer parte de um trio do Afropunk que tem a mesma representatividade para o Brooklin que nós temos para Camaçari (BA), um lugar com vários quilombos. Nós somos movimentos similares e somamos forças estando juntos”, afirma o vocalista José Macedo.

O Afrocidade faz parte da nova cena da música preta, assim como BaianaSystem e Larissa Luz, Xênia França Luedji Luna, que vieram com um trio elétrico atrás no projeto “Aya Bass”, num grande movimento preto. “Invadimos a praia deles, assim como eles invadiram os bairros pretos com as músicas deles”, diz Macedo. Quem via a banda não dizia que estavam em sua primeira apresentação em um trio. Pareciam veteranos e trouxeram à frente do trio do “Navio Pirata”, um balé no chão com 12 pessoas dançando. As alas de dança são tradição dos blocos afros, que trazem um ritmo mais tradicional. No caso do Afrocidade, a dança era mais urbana e contemporânea.

Já o Racionais MC’s é o grupo mais representativo do rap brasileiro. O ritmo tem uma grande penetração nas periferias do Brasil e traz em suas letras protestos. Mano Brown nunca tinha tocado durante o carnaval e havia uma sede do público em ver uma apresentação dele, já que mesmo os shows têm sido menos frequentes. Ele tocou músicas fortes como “Nego drama”, que fala das dificuldades da ascensão do negro e “Vida louca”, uma espécie de hino que fala sobre celebração da vitória dos negros. Mano Brown é um ícone da negritude brasileira e causou comoção com sua passagem, tanto entre os vendedores ambulantes, quanto entre os seguidores dos blocos e até os camarotes. “Me sinto totalmente identificado com o Festival e os nomes envolvidos, sendo na Bahia então é mais que especial, pois aqui o Brasil é mais Brasil”, afirma.

Já a rapper Cronista do Morro trouxe a representatividade das mulheres para o palco, assim como a cantora Fernanda Maia, do Afrocidade, que canta “As minas para o baile”. Trazer esses ritmos para o carnaval é algo revolucionário, uma vez que a festa é conhecida por ter como forte o Axé Music, músicas mais para dançar e sem contexto histórico ou político. Já o cantor Afro Jhow trouxe as músicas do bloco afro Muzenza, que traz o samba reggae e homenageia a Jamaica e Bob Marley em suas músicas. Um dos blocos mais antigo e de maior resistência do carnaval da cidade.

Já no segundo dia, o Baiana System foi o anfitrião da festa com seu trio “Navio Pirata”, que navegou pelo mar preto que se tornou o circuito “Barra-Ondina”. Russo Passapusso, o vocalista da banda, tinha participado também do primeiro dia. No domingo (23), abriu várias rodas e cantou sucessos como “Lucro”, que fala da máquina de fazer dinheiro e “capim guiné”, sobre a conexão diaspórica. A banda tem uma legião de fãs, que está acostumada a vê-los se apresentando apenas antes do carnaval e foi ao circuito com a máscara da banda e ganhou bandanas personalizadas do Afropunk. Também tiveram participações do cantor BNegão, do rapper baiano Vandal e da cantora do bloco afro Ilê Aiyê Iracema Killiane, que agitou o público com os sucessos do bloco mais antigo do Brasil.

O fundador do Afropunk Matthew Morgan acompanhou os trios animado. “Escolhemos o Carnaval porque é um dos eventos mais importantes e populares do Brasil. Eu pude sentir isso quando participei no ano passado. O que senti na Bahia foi uma conexão com nossos ancestrais. Isso me fez entender como as possibilidades são infinitas. Para aqueles de nós que foram forçados a sair e aqueles de nós que estão voltando para casa. Somos poderosos juntos, nos reconectando com nossos irmãos e irmãs, o que permitirá a mudança de que todos precisamos. Somos mais poderosos juntos”, afirmou. Os trios foram, portanto, um teaser do que vai ser o Afropunk em Salvador em novembro contemplando a negritude, a periferia, mulheres, LGTQI+, a dança e principalmente essa nova cena musical efervescente da Bahia, sem esquecer as referências da nova geração.

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