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entrevista: tombei! karol conka e o empoderamento feminino

novembro 19, 2019

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A Karol Conka é uma cantora brasileira de Curitiba que está prestes a lançar seu segundo álbum. A primeira faixa do disco (são 10 ao todo) é “Tombei”, e ela já tem um clipe bem a seu estilo empoderamento feminino. A artista explica: “Tombei é algo usado para situações como momentos de choque e de marcação de território. Significa sair por cima, impactar, dar a letra, quebrar tudo.” É uma faixa que mostra toda a attitude que a Karol carrega no seu estilo e nas suas letras.

Por Ligia Hipólito, colaboradora do AFROPUNK
Com colaboração de Naiara Albuquerque
Fotos: Cintia Augusta

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Em seu primeiro álbum, “Batuk Freak” (2013), Karol canta sobre abrir mentes, empoderamento feminino, festas e sua história. É isso: essa mulher de 28 anos está ali cantando sobre a resistência africana ao som de tambores também africanos.

Além disso tudo, a Karol dá ênfase à força das mulheres na sociedade. “O fato de que eu tenha nascido mulher sempre fará com que eu queira falar sobre isso. Eu cresci com minha avó falando sobre empoderamente feminino. Ela sempre me ensinou que uma mulher precisa lutar para afirmar seu poder na sociedade. A música, pra mim, é como um tipo de resistência contra muitas formas de preconceitos que sofri por ser negra, mulher e pobre. Assim, minhas letras são carregadas de mensagens de auto-estima e também são uma forma de dizer algo, de se fazer ouvir.”

Leia abaixo nossa entrevista completa com a Karol Conka:

“Tombei” é só um aperitivo pro seu álbum?
Sim, “Tombei” é a entrada para o prato principal!

O que significa exatamente a expressão “Tombei”, que dá título ao single?
Tombei é algo usado para situações como momentos de choque e de marcação de território. Significa sair por cima, impactar, dar a letra, quebrar tudo.

Como foi a parceria com o duo Tropkillaz para criar o beat dessa música?
Conheço o Zegon e o Laudz já tem bastante tempo e eu amo os dois. Recebi o convite para ser um dos artistas do selo Buum, junto com o Tropkillaz e de cara a gente trabalhou nessa nova faixa do meu álbum. O som do Tropkillaz tem muita energia e peso e são bem parecidos com meu jeito de ser.

Como surgiu a oportunidade de gravar umas imagens em Paris que tem a ver com “Tombei”, quase um video clipe curtinho?

Essa já era minha terceira turnê europeia e eu pensei que seria legal registrar o início desse meu novo single ali, em Paris. Aí eu lancei essa espécie de “making of”, com as cenas iniciais do que eu queria fazer. Dessa maneira eu criei uma curiosidade maior nos meus fãs em cima desse novo clipe e, quando eu lancei, foi “bum”.

Em algumas letras, você fala do poder da mulher. Você se considera feminista?
O fato de que eu tenha nascido mulher sempre fará com que eu queira falar sobre isso. Eu cresci com minha avó falando sobre empoderamente feminino. Ela sempre me ensinou que uma mulher precisa lutar para afirmar seu poder na sociedade. A música, pra mim, é como um tipo de resistência contra muitas formas de preconceitos que sofri por ser negra, mulher e pobre. Assim, minhas letras são carregadas de mensagens de auto-estima e também são uma forma de dizer algo, de se fazer ouvir.

Outro elemento forte na sua música é a conexão com a natureza e com uma ideia de mente-aberta. Você se considera uma pessoa espiritual?
Eu gosto de me conectar com o universo dessa maneira, eu sou movida por energia, gosto de coisas boas a meu redor.

A música pode ser usada para falar de política?
A gente pode fazer muitas coisas com música. Para mim, fazer música é algo mágico..

Como o hip hop tem recebido a nova geração de mulheres no Brasil?
Eu vejo que hoje há um misto de tolerância com admiração.

Quais são seus planos para esse ano?
Continuar a me desafiar musicalmente, lançar um novo álbum e, se der, pisar na opinião dos outros!

Você gravou o single “Até o Amanhecer”, em 2014, com o cantor Luiz Melodia. Como foi isso?

Essa parceria surgiu de um lindo projeto chamado “Meet The Legends” (“Conheça as Lendas”), uma parceria entra a Ray-Ban e a VICE. Eles juntaram novos artistas a nomes tradicionais da música brasileira. Foi fantástico. Embora eu não esteja em busca de outras parcerias agora, eu estou trabalhando — e esperando — por coisas assim.

O que você tem ouvido ultimamente?
Eu escuto um monte de coisas. Eu gosto de ouvir discos de vinil que compro em outros países. Lewlewal of Podor é um deles, Georgette, Ijahman… Também gosto de ouvir Elliphant, Tulipa Ruiz, Rihanna, Alice Smith.

Você é uma artista da geração “copyleft”, que estimula que pessoas cheguem à sua música por meio do download e das redes sociais, do compartilhamento online. Como você enxerga esse movimento? Você tem alguma iniciativa nesse sentido?
Eu acho que a música é feita para ser, a princípio, compartilhada. As pessoas precisam ouvir música e quanto mais fácil alcançar o público, melhor. Em 2013, eu compartilhei meu primeiro álbum na internet de graça, as pessoas só precisavam tuitar ou postar no Facebook para baixar o disco. Isso facilitou para que meu trabalho fosse mais conhecido graças a posts e reposts.

Você consegue viver bem, em termos financeiros, como um artista de hip hop no Brasil?
A realidade da economia brasileira não é muito boa para um artista independente. Eu sou parte de um grupo pequeno de artistas do hip hop que conseguem viver de arte. Eu acho que isso vai mudar futuramente, eu espero que mude.

Antes de ser rapper, você tinha outro trabalho?
Já trabalhei como assistente administrativa, secretária, operadora de telemarketing — e não consegui parar em nenhum trabalho.

Como foi seu início no hip hop?
Eu sempre escrevi músicas e quando eu tinha 16 anos eu estava meio perdida com relação a qual gênero musical seguir. Aí eu estava numa loja quando vi um disco dos Fugees na prateleira e fiquei impressionada com o rosto da Lauryn Hill na capa, junto dos outros membros da banda. Ali, eu me senti representada como nunca na música. Quando eu ouvi aquele som e aprendi mais sobre ela, eu virei fã. Depois disso eu sabia que queria virar rapper porque eu senti uma força dentro de mim.

Você escreve todas as suas canções. Você pensa em fechar parcerias com outros compositores?
Eu escrevo minhas próprias músicas e me divirto muito fazendo isso, mas com certeza eu me lançaria em parcerias, elas são sempre bem-vindas.

Por que você faz questão de ter tambores africanos nos seus beats?
Para mim, é óbvia a ideia de ter tambores africanos na minha música porque eu sou negra e sempre amei isso. Eu cresci ouvindo tambores afro-brasileiros. Por conta disso, eu sempre quis um pedaço da cultura negra em todos os beats. Quando eu conheci o beatmaker que me ajudou no meu álbum, eu fui bem clara quanto às minhas intenções com os beats, ressaltando que eu era uma neta de uma mulher baiana — estado que tem uma grande população negra. E, como um bom beatmaker, ele tinha umas raridades em vinil e um conhecimento bem grande em música. No fim, fiquei satisfeita com o resultado.

Você também se destaca pelo seu estilo. Qual mensagem você quer passar com isso?
Sempre amei me vestir de um jeito diferente, da minha própria maneira. Com o tempo, eu aprendi mais sobre moda e descobri mais sobre meu próprio estilo. Eu gosto de me vestir de acordo com o clima, o meu humor, as situações… Eu olho para minhas roupas, e vejo se tem algo que chama minha atenção e que esteja de acordo com minha personalidade, com meu “mood”. Minha mensagem é: vista-se da maneira que te deixa feliz.

Na sua opinião, qual é a maior diferença entre o hip hop no Brasil e em outros países?
Eu prefiro não comparar, não quero listar essas diferenças..

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