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redefinindo a beleza, o feminismo e o ativismo brasileiros
Fotos por Caroline Lima para o AFROPUNK
Bastam poucos minutos ao lado de Aisha Mbikila Garcia Fikula para entender por que ela foi listada pela Forbes como uma das jovens mais promissoras do país com menos de 30 anos. Aos 21, Aisha é um misto brilhante de inteligência enraizada na ancestral sabedoria negra com toques do ousado carisma da geração Z.
Seu nome, Aisha, vem da língua africana Swahili e, quase como uma tradução da sua personalidade, significa vida. Aisha é modelo, performer, atriz e DJ e a soma dessas atividades faz dela um dos principais rostos do ativismo negro e jovem no Brasil. Seu discurso agudo aliado ao feminismo negro representa uma nova estética para o mainstream, com foco na ideia do que é ser uma jovem negra.
Aisha tem uma carreira sólida repleta de destaques. Ela já participou de um projeto especial do National Geographic Channel rodado na Patagônia e estrelou a campanha global Hyper Flora, da Nike. Influencer, a jovem aproveita esse interesse do mundo publicitário para espalhar um discurso carregado de Black Power.
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Caroline Lima @carolinelima.co
Como se isso tudo não bastasse, Aisha também é DJ. Ela colabora com sua prima e fiel escudeira Yaminah Garcia e, juntas, as duas exaltam a cultura negra em seleções baseadas especialmente em músicas afro-brasileiras. Dividindo seu tempo entre a vida de DJ nas mais plurais festas do país e como modelo na frente de câmeras, Aisha ainda arranja tempo para performar nos videoclpes de grandes artistas brasileiras, como as poderosas Xênia França, Karol Conká e Pabllo Vittar.
No seu perfil do Instagram, Aisha se auto-denomina metade brasileira, metade angolana. Ela explica que essa definição tem origem em sua herança genética. Meu pai é angolano e, graças às redes sociais, eu descobri que tenho seis irmãos angolanos”, diz Aisha. “Isso me deu uma poderosa sensação de pertencimento e conexão com minhas origens. É um privilégio saber de onde eu venho em um país onde a herança genética do povo negro tem sido sistematicamente apagada.”
Esse espírito de Aisha não vem de hoje. A sua família se mudou para Brasília em 1959 para construir a cidade. Seu avô, Willy de Mello, foi o único arquiteto negro a fazer parte da equipe de Niemeyer, que planejou a capital do Brasil. Mello foi responsável por elogiados projetos paisagísticos da cidade. A avó de Aisha, Lydia Garcia, foi militante do movimento negro, arte-educadora e tinha um ateliê de moda étnica. Foi nesse ambiente em que Aisha teve seu primeiro contato com moda, já sob um filtro de referência afro. A geração seguinte da família seguiu quebrando paradigmas: a mãe de Aisha foi uma das primeiras professoras negras de Brasília, um feito considerável em uma sociedade racista.
“As pessoas falam sobre mim, mas a responsabilidade sobre tudo que tem acontecido na minha vida é da minha avó Lydia. Ela sempre foi uma mulher pra frente, ela sempre teve uma atitude punk”, diz Aisha, reconstruindo sua ancestralidade e justificando seu discurso politizado. “Você consegue imaginar o que é ser uma mulher punk no Brasil racista dos anos 50?”
A história de Aisha e da sua família joga luz sobre diferentes momentos do feminino negro, algo que exige uma interpretação além da literaura tradicional. Isso porque, pra começar, muitas contribuições dessas mulheres negras são historicamente ignoradas. Por exemplo: durante o período da escravidão no Brasil, mulheres negras já eram empreendedoras ao comprar a alforria — a liberdade — de escravos. Da mesma maneira, muitas dessas mulheres estiveram na organização de levantes contra a escravidão e de estratégias de defesa dos quilombos.
Se observamos de perto a história da mulher negra no Brasil e em outros países de passado escravista, veremos que elas já tiveram papel importante na luta e na sobrevivência do povo negro. Esse esforço passa a ser reconhecido e continua a ser empregado hoje em dia, mas de uma maneira diferente. O ativismo de Aisha se embrenha no campo estético e mostra à sociedade uma nova representação da mulher negra.
Por Luciana Paulino
Tradução por Felipe Maia
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